A hostilidade
dos moradores da Província de Machiparo foi sentida de maneira muito explicita
pelos colonizadores: no primeiro momento (os espanhóis) e posteriormente pelos
portugueses. Segundo descrição de Carvajal os guerreiros desta aldeia tinham
entre 30 a 70 anos e eram preparados para ir à guerra[1].
Apesar de terem sido bem recebidos em outras províncias no Alto Solimões em
Machiparo a expedição de Orellana não recebeu boa acolhida. Ao entrarem no
território de Machiparo a descrição de Carvajal, foi transcrita no Livro Um Rio
para o Eldorado, da seguinte maneira: “Por todas as partes do rio viam-se
canoas, e todas elas repletas com guerreiros indígenas... Os índios
aproximaram-se com gritos de guerra, com tambores trovoando e trombetas, cujo
som profundo ecoava sobre a água como uma chamada de um mundo estranho e
distante” [2].
Por haver
necessidade de adquirirem alimentos para seguir viagem os europeus partiram
para o confronto com os nativos. Diante da presença eminente dos invasores em
suas terras os nativos de Machiparo receberam a expedição de Orellana
fortemente armados. A descrição de Carvajal narra que ao chegaram à região no
dia 12 de maio e que se depararam com os domínios de um soberano chamado
Machiparo, cuja recepção não foi nada agradável. Não houve um entendimento pacifico
com a expedição espanhola. Somente através da força é que o invasor conseguiu
alimentos, atacando e saqueando as aldeias neste propósito. [3]
Assim foi
descrito o episódio histórico:
“Ao completar doze dias
de maio, chegamos às províncias de Machiparo, que são terras populosas, que
fazem fronteiras com outra região muito grande chamada Omágua, e são amigos que
se juntam para a guerra com outras regiões que ficam terra adentro e que atacam
diariamente as suas casas. Quando chegamos a umas duas léguas da região vimos
que estava repleta de aldeias e não andamos muito e avistamos, rio acima,
grande quantidade de canoas em posição de combate. Aí tivemos uma batalha
perigosa, porque como havia muitos índios na água e na terra, em todos os
lugares, a guerra era dura. Os arqueiros [nossos] desceram em terra e bateram
nos índios de tal maneira que eles fugiram. Ganho o pedaço de terra, o capitão
mandou o alferes com 25 homens percorrer o local. Contou-lhe tudo o que havia
visto e como havia grande quantidade de alimento, como tartarugas, que estavam
nos cercados e nos tanques, muita carne, peixe e biscoito [beiju], tudo em
abundância que daria para sustentar um batalhão de mil homens durante um ano.
Resolveu [o capitão] que deveríamos ir ainda mais rio abaixo (...). Começamos a
navegar e não paramos de combater os índios, e não se tinha ideia do número de
pessoas que apareciam por terra. (...) Ainda nos seguiram durante dois dias e
duas noites, sem que pudéssemos repousar, e demoramos tanto para sair desse
lugar e desse senhor, chamado Machiparo...” [4].
Na verdade, sem lograrem muito sucesso, os colonizadores
saíram escorraçados da região de Machiparo, pela resistência dos nativos que
ferozes lutaram contra a presença estrangeira em seus aldeamentos e ainda
perseguiram rio abaixo os expedicionários.
“Mas ainda nos seguiram durante dois dias e duas noites,
sem nos deixarem repousar, que tanto durou para sairmos das terras desse grande
senhor Machiparo...” [5].
Apesar dos espanhóis terem passado por aqui na aurora do
contato do amazônida com os europeus, e assim terem perpetuado os primeiros
registros históricos de como era habitada originariamente o que futuramente
viria a ser Coari, coube a outro povo europeu (os portugueses) a colonização
efetiva e a organização política da região, até que os domínios da região
passassem definitivamente aos brasileiros.
[1] Carvajal 1941:57.
[2] Um rio para o El Dourado.
Peter Paul Hilbert, Klaus Hilbert.
EDIPUCRS, 2005 - 204 páginas. Pag.125.
[5] Idem.
0 Comentários