Daniel Maciel Gomes
Quase cem anos depois que Orellana passou
pelo Solimões, a presença portuguesa era mais forte na Amazônia, o que mudaria
completamente a histórias dos nativos que há época habitavam a região do
município de Coari. Por volta do século XVII à realidade já era bem diferente no
Solimões, o quadro populacional já não era o mesmo e a localização das tribos
havia mudado. Estudos demonstram que os povos indígenas tinham mudado suas
posições ao longo do rio, tudo isto aconteceu a partir do contato com os
europeus, principalmente os portugueses que utilizaram a violência e dominação
para estabelecer territórios.
Os nativos resistiam à escravização de índios
pelos portugueses no baixo Amazonas, iam tomando posse de todas as localidades
e já alcançavam pelo menos o Tapajós. A realidade cultural modificava-se a
partir deste contato que ficava cada vez mais consolidado. Outros povos também
deixavam sua influência como é o caso do que acontecia na foz do rio Negro onde
a utilização de ferramentas rudimentares era substituída por metais, neste
período, nesta região já há registro da utilização de instrumentos de metal,
introduzidos pelo comércio, mediado por outros grupos indígenas, com os
holandeses que já haviam ocupado a Guiana.
Estes nativos começavam a migrar para as
regiões mais distantes das margens do Solimões se deslocando rio acima devido o
avanço das expedições escravizadoras portuguesas que estavam começando a
acontecer. Através das chamadas “Tropas de Resgate” as expedições colonizadoras
devastaram a população indígena que vivia às margens do rio Amazonas e em seus
afluentes mais próximos. Não foi diferente na região do município de Coari uma
vez que aqui havia uma grande concentração de nativos.
Provas deste papel colonizador e escravizador,
que os portugueses exerceram são perceptíveis: quando entraram no Solimões a
tropas lusitanas de Bartolomeu Bueno de Ataíde, em 1651, Manuel Coelho, em
1671; Francisco Lopes, em 1673. O extermínio da cultura local e da vida dos
nativos foi dramático e mudou radicalmente a história daqueles povos.
Registros históricos relacionados a esta
perseguição por parte dos colonizadores dão conta de que quando o Padre Samuel
Fritz, após ter adoecido, subiu o Solimões em 1691, (após ter descido fundando
missões religiosas no Solimões, dentre elas Coari em 1689) escoltado por
portugueses encontrou até pouco acima da boca do Juruá, aldeias abandonadas. A
fuga dos nativos havia ocorrido definitivamente por terem os índios se refugiado
no interior, alarmados com a aproximação dos lusitanos. Já no ano de 1692 ele tomou
conhecimento que portugueses que o haviam escoltado rio acima, em seu regresso, haviam realizado ataques no
Rio Coari, matando muita gente e levado o resto como escravos. Portanto, na
região do futuro município de Coari já se desenrolavam dramas sociais que
também foram vividos em outras regiões do Amazonas.
Esses embates nesta região de Coari mostram a
hostilidade que havia entre o nativo da região e o invasor colonizador e o quão
violentamente ocorria à posse da região. A terra dos nativos era conquistada
para a coroa portuguesa a ferro e fogo. O impacto da política escravizadora
portuguesa foi devastadora. Quando da chegada do Padre Samuel Fritz ao Solimões
no ano de 1.686 os índios ainda moravam em aldeias construídas por eles
próprios e não reunidos em aldeamentos erigidos de modo a favorecer o trabalho
de catequese, como acabava sempre acontecendo com as missões. Após a expulsão
dos espanhóis e a apropriação definitiva pelos portugueses a população indígena
que se estendia ao longo do rio de modo quase contínuo, como mostraram os
primeiros cronistas, se reduziu a umas poucas missões, dirigidas por
carmelitas, separadas por grandes distâncias desabitadas, como indica o texto
de La Condamine.
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