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A HISTÓRIA DA PRELAZIA DE COARI DESDE 1774 , DA CATEDRAL E OUTROS ASPECTOS HISTÓRICOS

Daniel Maciel Gomes

Com a expulsão oficial dos jesuítas espanhóis pelo ato régio de 06 de junho de 1755, o domínio da região ficou totalmente sob a responsabilidade dos carmelitas portugueses, que criaram novas missões, continuando o sistema de aldeamento e redução. A calmaria e a certeza de não serem importunados levavam os carmelitas a trabalhar de forma organizada, como pedia o governo da Capitania[1].

Em 1759 a aldeia do Rio Coari foi elevada à categoria de Lugar, recebendo o nome de Alvelos, pelo coronel Joaquim de Mello e Povoas, governador da Capitania de São José do Rio Negro. O Vigário Geral do Rio Negro José Monteiro de Noronha, em sua visita pastoral pelo Rio Solimões em 1768, descreve a evolução das missões, especialmente em Coari, e o trabalho dos missionários para melhorar a vida de seus catecúmenos. [2].

As informações mais antigas dão conta que a criação da paróquia de Nossa Senhora de Santana data do ano de 1774, segundo um mapa organizado pela Secretaria do Governo do Amazonas em 30 de setembro de 1860.

Quando a província foi inaugurada, a paróquia de Coari pertencia ao terceiro distrito eclesiástico, sendo o vigário da mesma o padre Luis Gonçalves de Azevedo. Na época a sua matriz encontrava-se muito deteriorada, relato feito pelo coronel João Wilken de Mattos, na paisagem que traçou de Alvelos em 1854 acompanhando o presidente da província Herculano Ferreira Penna.

Em 30 de setembro de 1854, a sede da freguesia foi transferida em virtude da Lei nº 37, para a foz do lago de Coari. Neste período a freguesia foi mudada de dentro do Lago de Coari para a foz do lago, uma nova igreja teria que ser construída, pois devido à mudança, o vigário da paróquia mudou-se para a nova sede da freguesia levando consigo os poucos utensílios religiosos que existiam, improvisando assim uma casa pequena e rústica para as práticas religiosas.

A Assembleia Provincial votou em 1855 uma verba destinada à construção da nova matriz. A impressão passada pela observação dos registros históricos era que os primeiros habitantes de Coari não eram tão cuidadosos em sua religiosidade com os locais de culto religioso. A situação da igreja era de grande abandono. Herculano Ferreira Penna narrou sua impressão sobre esses aspectos religiosos dos primeiros habitantes de Coari, no que diz respeito à Igreja Católica afirmando que de algumas igrejas que foram levantadas pela devoção e piedade dos antigos, não restavam vestígio algum; de outras restavam somente ruínas, que faziam a mais viva censura à indiferença e desleixo das novas gerações, afirmando que poucas eram aquelas que haviam sido construídas ou concertadas.

O Padre Missionário capuchinho Fr. Gregório José Maria de Bene, chegou à freguesia de Coari em 10 de Maio de 1855. Veio para catequizar e realizou trabalho relevante em antigas comunidades e localidades do Amazonas, tanto no Solimões quanto no Rio Negro, nas missões do Uaupés e dos Içanam.

O aspecto oficial da primeira matriz localizada na foz do lago encontrou-se em um processo lento de aprovação, sendo que até o ano de 1866, a quota votada pela Assembleia para a construção da Igreja de Coari não tinha sido aplicada, enquanto isso as reuniões religiosas católicas eram realizadas em uma casa particular.

Em 01 de maio de 1874, pela Lei Provincial nº 287, a freguesia foi elevada à Vila de Coari. Em 21 de maio de 1874, baseado na mesma lei provincial 287 é instalado o município de Coari. Somente a partir do ano de 1877 é que as obras da igreja começaram.

Quando a primeira matriz da nova sede da freguesia de Alvéolos começou a ser construída, uma comissão de pessoas importantes da época foi constituída para cuidarem do assunto, compondo esta comissão o vigário José Maria Fernandes, o major Antonio José Pereira Guimarães, o tenente Balbino José Pereira Guimarães, os capitães Gustavo Antonio Ribeiro e M. Nogueira Dejard.

Segundo informações de Anísio Jobim[3], a partir do ano de 1873, a primeira edificação já estava quase toda construída, faltando apenas concluir algumas dependências da igreja, como cobrir com telha uma das sacristias, ladrilhar o corpo da Igreja, construir o coro e a grade do confessionário. Essa construção era de taipa de pau a pique, e foram utilizados na construção quatro mil tijolos e quinhentas telhas na sacristia. Houve ainda a participação do governo na construção da matriz fornecendo dezesseis barricas de cal.

O trabalho realizado pelos coarienses da época fez com que fosse construída uma das melhores igrejas católicas de seu tempo, pelo menos essa impressão foi a que ficou registrado por um dos grandes presidentes do Amazonas da época, que afirmou que no interior, as matrizes católicas não tinham a decência necessária a um templo onde se celebra o culto divino, com a exceção da Vila de Coari, as demais do interior não podiam ter semelhante nome.

No mesmo período histórico foi construída uma capela na cidade consagrada a São Sebastião. Essa matriz e a capela citada anteriormente desabaram, pois foram construídas de palha e barro.

Em seguida foi erigida outra Matriz, agora dedicada a São Sebastião, sendo a construção da mesma motivada pela população, tendo como líder desta construção o padre espanhol Victor Merino, que era vigário da freguesia na época. Tendo em base os arquivos pesquisados não foi possível precisar o período de tempo entre uma construção e outra.

Este padre saiu em uma peregrinação de seringal a seringal e de barracão a barracão, de sitio em sitio, de povoado em povoado, de rio em rio, enfrentando as intempéries pedindo donativos para a construção da nova matriz.

A matriz de São Sebastião foi construída no alto da colina, um dos templos mais lindos que se encontravam na época no Rio Solimões, ainda que pequena, era adornada de fino mosaico, formada por ladrilhos doados em parte pelo senador Silvério Nery e pelo Dr. Francisco Satyro Vieira Marinho e outros que ajudaram na construção da matriz, tendo um altar trabalhado com esmero.

O município deu documento para o funcionamento da diocese definitivamente no ano de 1895, aforando um terreno na praça denominada antigamente de São Pedro. O ato foi presenciado pelo cônego Antonio Fernandes da Silva, representando Dom José Lourenço, bispo do Amazonas à época.

Gregório José Maria de Bene e também Jesuíno Cardoso são nomes que merecem ser lembrados pelo zelo e dedicação na missão católica. Outros religiosos que passaram por Coari foram Fr. Caetano Brandão, em sua famosa viagem ao Alto Amazonas; D. Frederico Costa, em 26 de janeiro de 1908, que passou por Coari quando a igreja de São Sebastião ainda estava em construção, registrando tal fato em sua carta paroquial datada do ano de 1909; D. Ireneu Feffely, em 1918 ficando nove dias na vila; em 1927, e D. Basílio Pereira afamado pregador.

Quando D. Frederico Costa passou por Coari a Igreja de São Sebastião ainda estava em obra, como ressaltou em sua carta Carta Pastoral, escrita em 1.909.

ASPECTOS DA VIDA RELIGOSA

Anísio Jobim cita o Código de Posturas Municipais, aprovado pela lei nº 604 de Junho de 1882 e relata alguns aspectos da vida religiosa à época. Por exemplo, o citado código estabelecia uma multa a quem faltasse ao respeito devido aos atos religiosos fora ou dentro do templo.

Era previsto também que as pessoas incumbidas de tirar esmolas para as festividades da igreja pelas irmandades do município, só o podiam fazer revestidas de opa, uma roupa de caráter religioso.

Até para o enterro havia previsão dentro do código em tela. Para o sepultamento havia lugar distinto no cemitério para o enterro de católicos e de suicidas. Pessoas embriagadas eram proibidas de entrar no cemitério.



[1] O RESGATE DO CATECUMENATO NA FORMAÇÃO DOS CRISTÃOS NA PRELAZIA DE COARI. FRANCISCO AGNALDO BARBOSA DA SILVA. SÃO PAULO – 2008. Pag. 22.

[2] Panoramas Amazônicos. Coari. Imprensa Pública. 1933. Anísio JOBIM.

[3] Panoramas Amazônicos. Coari. Imprensa Pública. 1933. Anísio JOBIM.


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1 Comentários

  1. A tragétoria da composição religiosa inicial ao município de Coari é sempre iniciada na tragétoria da invocação e contemplação de Santana, como padroeira regional dos arredores.
    Mas as circunstâncias, da fundação do embrião de aldeamentos, dos quais sofreu descimento, vindo sendo instalado em vários locais do Solimões, até se ascentar no local onde hoje está a sede citadina do município, levaram uns bons cem anos!
    É sempre uma caminhada volvedora e apaixonante! Tudo parece que foi construído no passado, mas na verdade, até no passado houveram profundas mudanças, que deram novos rumos ao hoje. E hoje, as mudanças que o cenário relógios da cidade sofre, redesenhará um novo amanhã!
    A igreja catolica de hoje, em Coari, é reflexo da chegada dos redentoristas nos anos 40 a cidade. Havia carência de sacerdotes, e esses vieram suprir, além da liturgia, a educação, o esporte e até, a cultura.
    Foi na quadra do arraial de Santana, que o primeiro festival folclórico foi fundado, em 1973. Foi támbem nessa mesma quadra, que por várias vezes, festas infantis ao dia das mães, das crianças, e do estudante foram celebradas. A quadra támbem recebeu festas populares tradicionais, como festival da música popular, festa da banana, aniversário da cidade, e outros eventos.
    As áreas dos arredores da matriz, támbem dava recreação as crianças e jovens, que por várias décadas, as tardes de sábado, estudavam o catecismo na catequese, oferecida na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Todo esse cenário foi reflexo da chegada dos padres redentoristas e das irmãs adoradoras do preciosíssimo Sangue!
    Antes deles, foi a vez dos carmelitas italianos, como o padre Victor Merino, construir o prédio da atual e centenária Catedral. Nessa época, a praça era de Santana e de São Pedro! Porém, nos anos 30, com a nova roupagem que a antiga Villa recebia, ficou sendo Catedral de Santana e São Sebastião... São Sebastião, padroeiro dos militares. E naquele momento, houve uma década com o período chamado de revolucionários, onde a era Vargas começava. Daí, tudo que era canto de Coari, ganharia nome de Militar! Mas o esforçado nome do Padre Victor, não seria esquecido, depois de suas lutas e andanças a se construir o templo da Catedral de Santana, que recebeu támbem São Sebastião! Os dois, foram támbem, denominação aos dois bairros iniciais de Coari. Mas o Tauamirim, já existia desde 1840. Pois bem, os militares se apossaram das nomeclatura dos lougradouros, mesmo os que a igreja já estava. Assim, nasceu o bairro Duque de Caixas, margeando pelo Igarapé do Divino Espírito Santo. A praça, que até 1937, era denominada de Herbert Lessa de Azevedo, passou a ser chamada de Getúlio Vargas, a partir de 20 de setembro daquele ano! Marechal Deodoro, Eduardo Ribeiro, támbem denominariam ruas importantes no cenário daquela época!
    Hoje, as formas de tudo isso ser aplicado, tem a ver com o modo de como Coari conduziu sua ação de acolhimento aqueles que detém a tradição religiosa de cumprir com o que prega a igreja católica!

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