Daniel Maciel Gomes
Em primeiro lugar, destaca-se no registro histórico, o número de habitantes. Uma enorme quantidade de mulheres, crianças e homens já viviam devidamente na região entre Tefé e Coari, antes mesmo dos colonizadores aqui chegarem. Segundo a observação de Frei de Carvajal era grande a povoação na região, uma densidade demográfica expressiva. O explorador espanhol registrou em sua observação que os vários povoados reuniam cerca de 50 mil nativos, habitantes primitivos da região, reunidos entre várias tribos, dentre as quais são citadas as tribos Catauxis, Irijus, Jumas, Jurimaguas, Auapes, Purupurus entre outros.
Na “província de
Machiparo”, abaixo da foz do Juruá, Carvajal assinala que “não havia de uma
aldeia a outra um tiro de balestra e as mais distantes não estariam a mais de
meia légua e houve aldeia que durou cinco léguas sem intervalo de uma casa a
outra”[1]
(Porro, 2008, p. 182, 185). E outra citação que diz: “e que, no parecer de todos,
teria mais de oitenta léguas, todas povoadas, que não havia de povoado a
povoado um tiro de besta, e as mais distantes, não se afastavam mais de meia
légua, e houve aldeias que se estendiam por mais de cinco léguas sem separação
de uma casa para outra, o que era coisa maravilhosa de ver. Como íamos de
passagem e fugindo, não tivemos oportunidade de saber o que havia terra
adentro. Mas segundo a sua disposição e aspecto, deve ser a mais povoada que já
se viu” [2].
Mesmo que alguns
estudiosos modernos considerem que houve certo exagero por parte de Carvajal,
ao citar estes números (cerca de 50 mil pessoas) pelo fato de que seu cálculo
foi auferido pela observação, no entanto, ainda que o cronista não tenha citado
o número preciso de habitantes, esta aferição serve para ter noção do impacto
que foi para os estrangeiros da expedição de Orellana observar a quantidade de
pessoas que já viviam na região. Certamente os expedicionários não imaginavam
encontrar tanta gente às margens dos rios que eles navegavam pela primeira vez.
É evidente a
grande densidade demográfica percebida pelos exploradores. Segundo Carvajal, as aldeias
eram muito próximas entre si e algumas destas aldeias “se estendiam por mais de
cinco léguas, sem separação entre uma casa e outra e isso era uma coisa
maravilhosa de se ver”. [3]Os
aspectos do modo de vida ribeirinho, herdados pelo homem rural até hoje, foi
observado por Carvajal.
Falando sobre a
Província de Yoriman, Acuña informa que
as casas dos índios Yoriman, no Solimões, ocupavam mais de uma légua de
extensão: "E como não vive em cada casa uma família só, como acontece
ordinariamente em nossa Espanha, mas que pelo menos se abrigam debaixo de cada
teto quatro ou cinco, e muitas vezes ainda mais, disso se poderá deduzir a
multidão de toda esta aldeia".
[1] PORRO, Antônio. História indígena do alto e médio
Amazonas. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, FAPESP, 2008,
p. 175-196. (1ª. ed.: 1992). Pag. 182,185
[2] CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do novo
descobrimento do famoso rio grande descoberto pelo capitão Francisco de
Orellana (1542). Edição bilíngue. São Paulo, Página Aberta, 1992, p.55, 57, 63
e 65.
[3] Carvajal apud
Ribeiro, 1996: 29.
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