Daniel Maciel Gomes
Machiparo
Especificamente muitos aspectos relevantes
são revelados sobre a Província de Machiparo. Esta província geograficamente
ficava localizada na região onde atualmente ficam os municípios de Tefé e Coari,
segundo Lima & Alencar (2000) que afirma que na região do Médio Solimões
esta província ocupava 20 km ao longo do Solimões, entre os rios Tefé e Coari.
“Os machiparos, mais tarde identificados como aisuares, formavam a grande
província da região do médio Solimões, ocupando 200 km ao longo do Solimões,
entre os rios Tefé e Coari” [1].
Outra citação diz: “A província de Machiparo, que se situava após um longo
trecho despovoado a jusante dos Omáguas no século XVI, estendia-se pela margem
direita do Solimões desde a foz do Tefé até a do Coari” (Porro, 1995, p.51).
Então um século mais tarde Acuña, Cruz e
Heriarte deram outros nomes a essas tribos do Solimões; abaixo dos Omágua,
entre o Juruá e o Coari, dominavam os Aysuari ou Curucirari, e do Coari ao
Purus os Yoriman ou Yurimagua, que os portugueses chamavam Solimões[2].
Portanto, é possível inferir que o alcance territorial do município de Coari
atualmente, abrangia áreas tanto da Província de Machiparo, quanto da Província
de Yoriman. É importante frisar que esta etnia localizada na região de Coari
não era a mesma do Alto Solimões Porro alerta para a não identificação imediata
entre os Omágua do Alto Solimões aos que se localizam abaixo da província de
Machiparo: “Conforme Carvajal, abaixo de Machiparo, entre Coari e Purus, viviam
os Omágua, mas a identificação desses últimos com a „grande Omágua‟ do século
XVII é extremamente problemática. Culturalmente e linguisticamente eram
distintos dos Omáguas do Napo e de Aparia [alto Solimões]. Apesar de que o nome
do seu cacique era Omágua (mas ocorrem também as variantes Oníguayal e Omaguci),
é possível que estejamos frente a um caso de homofonia que levou historiadores
antigos e modernos a identificar apressadamente dois grupos distintos” (Porro,
1995, p.94). E o que consolida ainda mais esta convicção é o fato do bom
relacionamento entre essas duas etnias: “Machiparo tinha com os Omágua uma
rivalidade de longa data; já com os seus vizinhos de rio abaixo, os Yoriman ou
Solimões, os de Machiparo mantinham relações amistosas” [3].
Inclusive, há um entendimento por parte dos estudiosos de que “esse senhorio de
Machiparo coincide com a província de Yoriman, de que fala Acuña no número LXI
da sua narrativa, como adiante se verá, e que ele chama ‘a mais belicosa nação
de todo o Rio Amazonas e que primeiras entradas atemorizava a esquadra
portuguesa, estendendo-se por pouco mais de 60 léguas’” [4].
Como o foco deste trabalho é a origem do
município de Coari, a informação serve para reconstruir e combinar os dados
sobre os povos que aqui viveram e cujo aldeamento localizado em algum lugar
desta região deu origem a missão religiosa espanhola, depois ao povoado
português que no futuro viria a ser o município de Coari.
De como todo o processo histórico, de
aldeamento à cidade, se desenrolou tratarei em outro capítulo. Neste primeiro
momento me aterei sobre a Província de Machiparo e de Yoriman, analisando o que
ficou registrado sobre os nativos desta região. O contato com os colonizadores,
o povoamento da região e outros aspectos do aculturamento, fatos que ocorreram
nos séculos anteriores ao surgimento de Coari como conhecemos hoje, mas que
dizem respeito aos nativos destas províncias, que podemos designar como os
primeiros moradores da região de Coari.
[1] População e meio ambiente:
debates e desafios. Senac, 1 de Jan de 1999 - 351 páginas. Pag. 137.
[2] Porro, 1995, p.26-27;
[3] Amazônia: conquista e desequilíbrio do ecossistema.
Corcíno Medeiros dos Santos. Thesaurus Editora, 1998 - 249 páginas. Pag. 103.
[4] Descobrimentos do rio das Amazonas. Gaspar de
Carvajal, Alonso de Roxas, Cristóbal de Acuña.
Companhia Editora
Nacional, 1941 - 294 páginas. Pag. 44.
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