Daniel Maciel Gomes
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a região onde fica o atual município de Coari não era uma terra despovoada. Neste local não haviam apenas mata e rios intocáveis como imagina o senso-comum. Não haviam aqui apenas florestas e rios despovoados e sim um aglomerado real de primitivos habitantes, povoando a densa região de rios e matas, sobretudo as áreas de várzeas do grande Rio Solimões.
Os estudos arqueológicos mais importantes sobre o assunto foram publicados em 2008 por Michael Heckenberger (da Universidade da Flórida), ele chegou a conclusão de que muitas pessoas viviam na região em determinados aldeamentos, não em forma de cidades como conhecemos hoje, mas em espécies de vilas, povoados rústicos, ligadas por uma complicada rede de ruelas dispostas ao redor de centros comunitários.
Estes assentamentos eram formados por redes de vilas e vilarejos, cada uma organizada em torno de uma praça central onde eram conduzidos rituais de cada povo. Não eram cidades, mas sim uma forma de urbanismo, construído em torno de vilas. A agricultura, irrigamento, criadouros de peixes, independência política e administração própria entre os povoados demonstram que os primeiros habitantes possuíam cultura definida e organização social complexa, afastando a idéia de gente primitiva, bárbara. Se do ponto de vista do colonizador que vinha de uma cultura mais complexa o homem amazônico poderia ser considerado primitivo, do ponto de vista da região eles já haviam desenvolvido uma cultura própria e estava perfeitamente adaptados a região.
Pelo registro dos povos das águas organizados em províncias que alcançavam toda a região que fica entre os atuais municípios de Tefé e Coari, infere-se que esta organização não tão primitiva assim fosse à realidade social quando da chegada dos Espanhóis na região que hoje é Coari. Esta vida em sociedade, com seus aspectos culturais bem definidos apontam para uma sociedade que possuía um modo pré-definido de viver mesmo antes da chegada dos espanhóis: os primeiros a estabelecerem contato com os nativos moradores da região de Coari.
Estes povos da região amazônica, no período das expedições quinhentistas, já possuíam seus próprios dialetos e formas de governo, desenvolvendo uma cultura altamente produtiva e centrada na agricultura, administrando muitas fontes de recursos e realizando irrigação e alagamento de áreas, para montar fazendas de peixes, por exemplo, conforme apontam vários estudos científicos sobre este período o que não era diferente na região de Coari, onde os primeiros contatos e narrativas demonstram claramente os espanhóis haverem encontrado uma organização social e política pré-definida.
Essa organização social era específica de cada povo que habitava a região. De clãs diferentes, eles já possuíam uma maneira própria de se organizar: geralmente viviam em grupos, tinham certa independência política e administrações que os distinguia conforme a região, ou tribo em que viviam. Além disso, havia um primitivo comercio intertribal com troca de benefícios e facilidades entre os povos.
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